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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sinopse:
Há exactamente seis dias, o astronauta Mark Watney tornou-se uma das primeiras pessoas a caminhar em Marte. Agora, ele tem a certeza de que vai ser a primeira pessoa a morrer ali.
Depois de uma tempestade de areia ter obrigado a sua tripulação a evacuar o planeta, e de esta o ter deixado para trás por julgá-lo morto, Mark encontra-se preso em Marte, completamente sozinho, sem perspetivas de conseguir comunicar com a Terra para dizer que está vivo.
E mesmo que o conseguisse fazer, os seus mantimentos esgotar-se-iam muito antes de uma equipa de salvamento o encontrar.
De qualquer modo, Mark não terá tempo para morrer de fome. A maquinaria danificada, o meio ambiente implacável e o simples «erro humano» irão, muito provavelmente, matá-lo primeiro.
Apoiando-se nas suas enormes capacidades técnicas, no domínio da engenharia e na determinada recusa em desistir, e num surpreendente sentido de humor a que vai buscar a força para sobreviver, ele embarca numa missão obstinada para se manter vivo. Será que a sua mestria vai ser suficiente para superar todas as adversidades impossíveis que se erguem contra si

Antes de começar a minha opinião, uma opinião que certamente será ligeira e ficará muito aquém do mérito deste livro, tenho de vos dizer que me sinto inapta para a fazer. A questão é que apesar de o talento de Andy Weir ser incontestável e de a sua história ser verdadeiramente poderosíssima, quer seja pela sua verosimilhança ou pela exploração psicológica que ocorre dentro do enredo e para com o leitor, ela trata a ciência com uma pureza que muitas vezes pôs à prova minha inteligência – sou uma pessoa de letras, literalmente, desculpem –, o que resultou, entre símbolos químicos, matemática e gravidade zero, numa tendência para nós cegos entre as minhas dendrites (células nervosas cerebrais). Dito isto, considerem-se avisados.  

O Marciano conta, como próprio título e capa induzem, a história de um astronauta em Marte o que, apesar ainda não ter sido realizado, é cada vez mais discutido e possível de acontecer no século corrente. No entanto, este texto é inovador pela forma como expõe os factos, pressupondo que caminhar em Marte não só é uma realidade como já foi concretizada por diversas vezes, bem como por relatar uma missão fracassada em que um dos seus tripulantes faleceu no Planeta Vermelho – o curioso é que ele não morreu.
O interessante desta premissa, numa fase inicial, é a forma como o protagonista, Mark Watney, encara a questão de ser o único a saber da sua sobrevivência e como lida com este problema, física e psicologicamente, sozinho com o seu equipamento e mente brilhantes. É uma verdadeira aventura futurista que transforma o Indiana Jones num menino de coro.

A personagem principal é meio livro, para não dizer mais. Ela é extraordinária.
Mark, sozinho num planeta inabitável, caracteriza-se por ser extremamente inteligente e proactivo, ter uma capacidade de raciocínio fora de série e um instinto fabuloso e, especialmente, por ter uma capacidade de lidar com a fatalidade que lhe aconteceu de forma absolutamente hilariante. Quando pensamos que está a ser trapalhão ou absurdo, quase conseguimos visualizar as roldanas do seu cérebro a funcionar um passo à frente do leitor comum, em momentos que são, geralmente e literalmente, um jogo de probabilidades entre a vida e a morte.
O seu discurso funciona maioritariamente através relatos, entradas num diário de bordo que este tem esperança – ela é a sua melhor amiga – de que mais tarde sejam úteis para a NASA compreender o que realmente aconteceu, o que faz com que por diversas vezes Mark pareça ligeiramente doido mas, convenhamos, isso para si absolutamente indiferente.

Existem um elevado número de personagens secundárias igualmente interessantes, como a restante tripulação da missão Ares 3, à qual o protagonista pertence, ou os indivíduos da própria NASA, que acabam por ter diferentes papéis relevantes. De qualquer forma, no primeiro caso creio que o mais gratificante é ver o tipo de personalidades que são escolhidas para a profissão número um nos sonhos infantis e, no segundo caso, ver o impacto que tal acontecimento teria na Terra e como isso mudaria a forma de pensar e agir extremamente rigorosa de uma identidade como a NASA.

Das muitas problemáticas possíveis de ser analisadas, e são certamente demasiadas as que eu não alcancei, enquanto leitora comum e impressionável fiquei-me pelas que mexeram comigo emocionalmente. Os dois pontos que mais me chocaram na condição do protagonista foram a solidão e o silêncio, armas poderosas da loucura. Vejam bem, não há vida em Marte, não há nada a não ser a tecnologia que conservou Mark, o zumbido de aparelhos que depressa é anulado pela continuidade – arrepiante na minha opinião. E o que maior empatia causou entre mim e a história foi o tom do discurso deste maravilhoso astronauta, a forma como este encontrava soluções aparentemente simples para as situações mais críticas e a sua capacidade de sobreviver, de se adaptar, fazendo uso da máxima de que o ser humano em condições extremas é capaz de ultrapassar limites inimagináveis.

Dois últimos destaques, o primeiro em relação ao impacto que o desastre de Mark causou na população terrestre em geral. Não vou adiantar pormenores – já devo ter cometido imensos spoiler algures – mas a verdade é que a moral deste enredo tem muito que se lhe diga em relação ao Homem e a sua capacidade de união. E o segundo relativamente à vertente tecnológica e científica da ficção, não foi por acaso que não divaguei sobre a mesma, foi mesmo por a informação ser tanta e tão explícita que me ultrapassa completamente.


Em suma, acredito que este livro seja um verdadeiro paraíso literário para os fãs de ficção científica, enquanto que o leitor comum encontrará no relato emotivo do protagonista, e nos desenvolvimentos que o seu caso vai tendo, a intensidade certa que o prenderá ao texto.

Quanto à escrita de Andy Weir esta é bastante descritiva como efectivamente tem de ser, dando uma visão bastante clara de tudo o que está a acontecer nos três cenários em que se desenrola acção, Marte, NASA e na nave onde está a restante tripulação da Ares 3. O facto de haver diversos tipos de discurso narrativo é também uma mais-valia, conferindo alguma leveza e fluidez ao texto, pela diversificação.
A profissão do autor, engenheiro de software, e as suas paixões, por Física Relativista, Mecânica Celeste e voos espaciais tripulados, são certamente a bagagem perfeita para que se leia a sua história como se fosse algo verídico.

Pessoalmente, gostei muito embora em alguns momentos tenha revirado os olhos, enfim, demasiada informação científica para mim. No entanto, desde início, fiquei rendida ao futuro de Mark e enquanto não terminei esta leitura não descansei.

Esta é uma aposta diferente da Topseller que poderá vir a conquistar um público diferente daquele que regra geral é o alvo do seu catálogo.


Título: O Marciano
Autor: Andy Weir
Género: Ficção Científica
Editora: Topseller


3 comentários :

Anónimo disse...

ADOREI este livro. Está mesmo muitíssimo bom *.*

Elphaba disse...

É verdade, está extremamente bem escrito e com uma qualidade acima da média :)

Manuel Alves disse...

Diversão completa (li o original, em inglês).

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