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sexta-feira, 19 de julho de 2013
Sinopse:
Voar deixou de ser um sonho impossível, mas apenas os ricos e poderosos podem pagar a cirurgia, medicamentos e manipulação genética para tal. Peri, uma jovem de classe baixa, está disposta a qualquer coisa para conseguir as suas asas e se juntar à elite, mas cedo descobre que o preço do seu sonho é mais elevado do que alguma vez imaginara. Será ela capaz de abdicar de tudo o que lhe é fundamental na vida? Um romance original sobre sacrifícios, traições e amor.

No momento actual em que tanto se especula sobre as alterações genéticas e todos os dilemas éticos associados que, indiscutivelmente, dizem respeito a todos nós, Claire Corbett alia uma das grandes fantasias do homem a uma sociedade futurista tão admirável quanto repudiante em O Império das Asas, uma história onde o surreal ganha vida de forma criativa, através de um enredo com uma pitada de suspense e um cariz tão emocional quanto científico.

Peri, uma entre ninguéns, sonhou ter asas e voar o que, contrariamente a todas as estatísticas, por ser pobre e não ter família, acabou por conseguir pelo mais elevado de todos os preços. Agora - com o seu recente passaporte para o céu garantido e como ama do filho recém-nascido de Peter, um arquitecto multimilionário e altamente conceituado -, ela descobre que as suas origens voltaram para a atormentar, findando a concretização do seu sonho e transportando-a de volta para o seu pior pesadelo, acabando por ser obrigada a deixar para trás tudo o que conquistou arduamente. A fuga é a sua única possibilidade e, simultaneamente, o assinar da sua sentença e a perda da sua liberdade porque não colocará apenas a sua vida em risco, Hugo, o bebé que alimenta, terá de a acompanhar e ela fará tudo para o defender.

Porque tanto as personagens como os temas abordados são variados, e eu não quero alongar-me demasiado, hoje vou optar falar de ambos em conjunto tentando dar a ver os lugares-comuns desta história que fará delícias de um público adulto e apaixonado por leituras desiguais. (Se não for coerente ou não gostarem deste tipo de opinião em particular, façam-me chegar o vosso feedback.)

Começando pela estrela principal desta ficção científicaPeri é realmente fantástica e cria um laço intrínseco com o leitor, mas não posso menosprezar tudo o resto que ela representa... Mais do que um indivíduo, esta jovem inteligente, interessante e extremamente astuta é a imagem de todas as vidas menos afortunadas, vidas que para conquistar o seu lugar neste cenário disfuncional recorrem à clandestinidade. Ela é, igualmente, o elo de ligação entre todos os outros intervenientes que nos levam reflectir, analisar, uma complexa faceta, embora menos bela, desta sociedade de humanos alados e capazes de tudo para alcançar os seus desejos, enquanto tentamos desvendar o mistério que levou à sua fuga da Cidade.

Outra das grandes personagens deste enredo é Zeke, um antigo polícia, um actual detective privado e, mais importante, um ser humano igual a qualquer um de nós e avesso às alterações que vão sendo aplicadas a quem puder pagá-las. Conhecido pela sua inteligência e extremamente dedicado ao seu filho Tom, este homem está longe de imaginar tudo o que a sua busca por Peri o levará a descobrir e representa, principalmente, as emoções, reacções, de um sujeito comum quando se depara com todas as potencialidades e dilemas que a nova realidade tem para oferecer. Pela frase anterior, podem perceber o grosso populacional não tem asas e não se apercebe do quão distante está da elite de voadores que começa, lentamente, a criar um sistema e uma zona restrita à sua “espécie”. A informação fornecida a quem lê por este interveniente é imensa e, acreditem, ele é a jóia da coroa para qualquer escritor que queira ser minucioso em tudo o que dá a ver aos seus leitores.

Igualmente interessantes pelas suas semelhanças e diferenças são Peter e Jay. Peter, o pai de Hugo, é um dos pilares da nova sociedade que está a florescer, pois a sua função é construir e dar vida a um ambiente exclusivo a quem consegue voar - as suas obras são dignas de qualquer sonho porque, obviamente, não foi só a nível da ciência humana que a tecnologia evoluiu. Por outro lado, ele mostra o quanto as alterações físicas podem alterar o psicológico de cada um e, da mesma forma, permite-nos fazer comparações com Jay. Jay, por sua vez, faz parte da elite dos voadores, tendo sido concebido para tirar o máximo partido das novas capacidades daqueles que foram alterados. Para ele voar é uma máxima que só funciona se for realizada em paralelo com o voo das aves vivendo, assim, de forma absolutamente distinta daqueles que tem asas apenas por capricho. É muito curioso tentar compreende-los em conjunto como duas faces da mesma moeda e, no fim, ambos acabam por revelar bastantes surpresas pondo-nos a reflectir sobre a causa-efeito das alterações a que foram sujeitos.

Ainda em relação a personagens, sou obrigada a falar de Tom e Hugo, duas crianças que pouco intervém mas que são responsáveis por quase tudo o que vamos lendo. Hugo porque, obviamente, é a criança levada por Peri e que Peter quer recuperar mas, mais importante, por ser filho de voadores e não ter as condições necessárias, fisicamente, para poder voar, contrariamente a Tom que é filho de pais normais mas que pode, eventualmente, vir a tornar-se voador. Confuso? Bem, eu avisei que este era um livro complexo, de qualquer forma a questão que aqui se impõe é o estigma e preconceito que começa a ser associado a quem pode ou não voar. Quais as vantagens para além do sonho? E que diferenças isso pode fazer na vida do individuo? São imensas as questões que estes dois pequenos levantam e que vos darão muito prazer descobrir, tenho a certeza.


Para lá daquilo que já citei, com ajuda dos seus intervenientes, este livro aborda ainda temas associados à família e ao abandono, algo que nos é comum, assim como diversas questões éticas que são levantadas, repetidamente, conforme somos confrontados com mais e mais informação sobre os voadores.
A sociedade abordada é igualmente fascinante e não apenas em relação ao meio onde estão presentes os portadores de asas. Também os indivíduos inalterados sofrem as consequências da evolução, quer no âmbito da saúde quer na própria postura, existindo aqui espaço para conhecermos o fascínio em oposição à aversão ou mesmo a corrupção em oposição à lei que acaba, inevitavelmente, por sofrer com os efeitos daqueles que não consegue alcançar.

Já me alonguei imenso mas tenho mesmo de vos falar também dos cenários descritos por Claire Corbett, que são absolutamente maravilhosos. Do citadino ao selvagem, com espaço para o extraordinário, as imagens descritas são deslumbrantes e gostei mesmo muito do que li. O mesmo se passa em relação a tudo o que envolve tecnologia, onde a autora é minuciosa e nos oferece algo credível, palpável, capaz de se tornar verdadeiro aos olhos do leitor. Nada, nada de nada, é deixado ao acaso e isso, claro, tem um preço que muitos leitores evitam, uma narração descritiva. Este livro não é fácil de ler e para quem procura algo leve e de entretenimento não vai conseguir passar das primeiras 100 páginas, mas a verdade é que sem os pormenores, os cuidados e as curiosidades, este livro não teria o valor que tem para quem quer, realmente, entrar numa nova dimensão em que as pessoas comuns podem voar, porque, convenhamos, o ser humano tal como é hoje nunca conseguiria tal feito de forma viável.
Por fim, Claire Corbett arranja ainda espaço para crítica e reflexão ao longo de toda a leitura, algo que esta leitora agradece muito.

Como nota pessoal, e que em nada tem que ver com este livro de que eu gostei imenso, não posso deixar de criticar a sua divulgação como uma fantasia. Este livro é uma ficção científica em todas as suas páginas, pura e crua, sendo que tudo o que aqui se passa é fundamentado em tecnologia e ciência. Nada do que vão ler acontece por acaso, por fantasia ou magia, exceptuando, claro está, a fantasiosa imaginação da autora para nos oferecer esta maravilhosa obra mas isso, a meu ver, leitores, é a maior e a melhor de todas as magias que vejo realizada todas as vezes que leio uma ficção, é a magia da criatividade. 

Esta é mais uma excelente aposta Porto Editora, para os leitores que gostam de leituras diferentes, que eu recomendo para quem deseje passar um bom momento entre páginas, o momento que terá igualmente espaço para a reflexão.
 
Título: O Império das Asas
Autora: Claire Corbett
Género: Ficção Científica
Editora: Porto Editora



2 comentários :

Neptuno_avista disse...

Epá, tenho cada vez mais vontade de ler este livro! Obrigada pela tua opinião :)
Beijinho

Elphaba disse...

Olá Neptuno *.*

O prazer dois meu, adoro divulgar FC porque é um dos meus género favoritos e, infelizmente, tem muito pouca adesão por parte do público em geral. Espero que gostes, não vai ser uma leitura fácil mas é gratificante!
BeijinhosP

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