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A Elphaba...

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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sinopse:
«Não vos vou descrever a minha cara, seja o que for que possam pensar, é pior.»
August nasceu com uma deficiência genética que faz com que o seu rosto seja completamente deformado. Quando nasceu os médicos não tinham esperança de que sobrevivesse, mas sobreviveu. Vários anos e muitas cirurgias depois, August vai, aos 10 anos, enfrentar o maior desfio da sua vida. A escola.
Contado a várias vozes, é uma história emotiva das dificuldades que tem de superar uma criança com uma terrível deformação e um relato do milagre que é a vida.

Quando ouvi falar sobre Milagre pela primeira vez, informaram-me que a história teve um forte impacto internacionalmente devido à sua crítica aberta contra o bullying, obviamente, curiosa, acabei por fazer uma breve pesquisa sobre livro e o que vi, o que li, foi muito mais do que isso e mexeu, automaticamente, comigo. Sou susceptível.
Posteriormente, quando tive oportunidade de ver, e rever, o book trailer do livro, emocionei-me… Já tinha lido a sinopse da história, entendem? Já sabia o significado de cada palavra e cada uma delas, infantil e descontraída, passara a ser especial, extraordinária, como todos os pares de August têm de ser para encarar a dádiva de estarem vivos. Infelizmente, porque será sempre assim e não vale apena fabular, terá de haver sempre alguém como August para nos lembrar, a nós – os que consideramos a normalidade um dado adquirido – de que existe quem desde muito cedo tenha de superar o mundo, a sociedade, para se aproximar do que consideramos vulgar, usual. E o que mais me custa é que nós, indivíduos comuns, podemos ser os únicos entraves para a satisfação dos seus desejos mais simples, que não são mais do que as nossas garantias.

Dividido em capítulos breves, que retractam os pequenos grandes passos de uma criança invulgar, este livro oferece ao leitor a possibilidade de se inteirar completamente da visão, do psicológico, de August em relação à forma como é encarado socialmente e por aqueles que o rodeiam, falando com naturalidade sobre as reacções alheias à sua deformação. Existe por parte desta criança uma aceitação dolorosamente crua e sincera de que sabe, à priori, ser incapaz de mudar a mentalidade dos outros para com a disparidade do seu rosto, um facto que, até à data, lhe tem permitido refugiar-se no seu lar e naqueles que se habituaram a si, no entanto, uma notícia, banal para várias crianças, vem abalar o seu mundo e nada voltará a ser como antes.
August vai frequentar o ensino regular, o que vai alterar totalmente o seu universo, o seu conforto, perante aquilo que é inalterável encontrando-se, pela primeira vez, inteiramente exposto a crueldade infantil daqueles que só agora começam a perder a inocência pueril. Vai ser duro, mesmo para alguém que já passou por inúmeras batalhas para estar vivo. Mas compreendam, até esta data as lutas desta personagem eram apenas para consigo e agora existirão centenas de mentes despertas, astutas e prontas para julgar o desconhecido. Estereótipos, preconceitos, maldade, mesmo que inadvertida, por jovens e adultos, alcançará a realidade de August que irá transformar-se e transformar, ainda que inocentemente, pela sua coragem e força de vontade. 
Uma vida que poderia ser simples, é complexada, mas acabará por mostrar, com pequenas gentilezas, que só não é normal porque ninguém olha para si como tal.

Para lá da voz de August, esta obra permite também conhecer as reacções narradas directamente por intervenientes secundários que, desde sempre, ou mais recentemente, lidam proximamente com o incomum protagonista, é o caso da sua irmã, Via, do seu novo amigo da escola, Jack, entre outros. Este facto eleva a o livro para outro patamar, pois ajuda o leitor a compreender as diferentes perspectivas de encarar esta situação dramática que, sem dúvida, abrirá os olhos de todos aqueles que diriam com facilidade “eu compreenderia logo”, “eu agiria de maneira diferente”… não se iludam! Não há facilidades para alguém como August e nem ele, nem os seus entes queridos, nem ninguém, merece um peso assim sobre os ombros. Para mim, todos aqueles que esta família representa, são uma lição de vida, são verdadeiros heróis.

R. J. Palacio, enquanto humana e escritora, tem uma voz franca e aberta que traduz na perfeição as mentes dos mais jovens, que são quem se dirige directamente ao leitor.
É irrepreensível a maneira simples como a autora escreve, explora, tocando profundamente o coração do leitor e mudando tanto as vidas ficcionais como aquelas que a folheiam. O método assertivo utilizado para tratar esta questão frágil, porque é exactamente disso que se trata, o método como escolhemos para agir com crianças como August, é retractado de forma que ora choca, ora enternece, ficando presente a mensagem de que se pode lidar com simplicidade com as diferenças e que estas diferenças podem ser aceites pelo humano comum, o único, que faz questão de marcar e evidenciar aquilo que não está nas mãos de alguém singular.

Esta é, definitivamente, uma narrativa transbordante de emoção. Dos medos aos gestos mais belos de amor puro, tudo é frisado com um primor extremo que tornou este livro muito especial para mim e que, tenho a certeza, será muito especial para vós.
Enfim, por muito que tente expressar-me esta é uma das raras histórias que têm, obrigatoriamente, de ler para conseguirem compreender como se conquistam grandes vitórias pela prostração, como se superam barreiras apenas com doçura e como o melhor e o pior de cada um, em qualquer idade, pode ser a chave para o futuro e a bem-estar de todos. E acreditem que apesar da incompreensão e mágoa, que dominam grande parte da narrativa, estes sentimentos de nada valem perante os muitos sorrisos e a esperança que vos preencherá os corações.

Uma grande, grande aposta de uma colecção que já me roubou todos os elogios, continua a roubar e creio que continuará tirar-me as palavras e muitas lágrimas mas que, em contrapartida, me oferece muita satisfação e emoção. ASA, colecção Livros com Sentido, histórias que apaixonam e fascinam, páginas que sugiro a todo e a qualquer leitor.

Título: Milagre
Autora: R. J. Palacio
Género: Romance
Editora: ASA – Livros com Sentido

4 comentários :

Anónimo disse...

Fiquei super interessada com este livro após ler a tua crítica!

Elphaba disse...

Crazy é sempre um prazer para mim motivar o prazer da leitura e este livro em particular é especial em cada palavra, acredita. Muito bom. Espero mesmo que tenhas oportunidade de o folhear.

Boas leituras.

Sandra disse...

Já conhecia...mas depois de ler a tua opinião e ver o trailer fiquei mesmo com vontade de o ler!

Elphaba disse...

É lindo Sandra. Só te posso dizer «Lê! Lê! Lê!» Eu tenho obrigado as pessoas a lerem e ninguém se arrepende. :)

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