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A Elphaba...

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sábado, 2 de junho de 2012

Sinopse:
Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí. Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu.
Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial.
Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?

As reflexões de um avô sobre influência da ditadura. Relatos de um pai, com escassez de lucidez, sobre as memórias de uma guerra sem vencedores. O crescimento de um menino, perspicaz, que brilha com a sua inocência enquanto se faz homem, enquanto escuta e aprende, por si, a juntar as peças de uma cicatriz que marcou três gerações de uma família.
                             
O Teu Rosto Será o Último fala-nos das reacções do povo lusitano face a liberdade alcançada com a chegada de Abril. Mais do que retractar o absolutismo, e posterior liberalismo, esta história narra-nos as memórias, as esperanças, de uma família ficcional que, mesmo a viver democracia, retém os seus segredos e os seus traumas que lentamente vão sendo revelados ao leitor.
João Ricardo Pedro tem um estilo de escrita singular, evidenciado por uma pontuação que confere um ritmo crescente à leitura. Sem meias palavras, o autor soube causar impacto e, pouco a pouco, surpreender acabando por revelar que, para lá do tema abordado, a sua frontalidade é merecedora de louvor.

O livro encontra-se dividido em sete partes que dividem e acentuam momentos marcantes, bem como, diferentes espaços temporais da história, o que me permitiu, acima de tudo, fazer uma reflexão e seguir em frente no relato da vida de Duarte.
Como leitora, considero que após o aparecimento desta personagem a leitura ganhou um novo ímpeto e, embora continuasse a ocorrer o aparecimento de acontecimentos independentes, é inegável a sua intervenção com fio condutor a uma trama que acaba por alcançar diversas proporções muito emotivas, sento que, a quinta parte do livro me marcou bastante.

Se nos debruçarmos sobre a história particular dos três homens que representam esta família, o último descendente é quem tem o papel fundamental no enredo, no entanto sem o contributo de Augusto Mendes, que assistiu às consequências da repressão na primeira pessoa, e de António que por duas vezes esteve na guerra em África presenciando horrores que o marcaram para lá do fim deste conflito, o livro não causariam o efeito pretendido.
Quanto a Duarte, muito possivelmente por o acompanharmos logo a partir dos primeiros passos, acaba por se tornar o protagonista do livro, não só pela sua própria história, pela qual nos compadecemos e apaixonamos, como pela aquisição de conhecimentos que  nos permitem a visualização de vidas que ultrapassam o próprio.

Fundamentalmente, penso que esta história dá voz a muitos factos que conseguirão mexer com o leitor, factos de vida sem floreados, sem a subtileza que muitas vezes se encontra na literatura.
Apelando à meditação, as emoções encontram-se ao virar de cada página, repletas de esperança e de medo, de dor e de conquista mas, acima de tudo, com o retracto de gentes que não podem ficar esquecidas.

Para mim é muito complicado falar deste livro sem me alongar, sem divagar, sem deixar escapar pormenores, porque é disso mesmo que a obra se trata. São extremamente diversificados os acontecimentos espelhados que, embora nem sempre sejam coesos, encontram o seu elo de ligação a tudo o resto e acredito que será esse facto a suscitar o interesse de um público abrangente. Morte, doença, pobreza, amor e desejo são, por exemplo, sentimentos presentes e, quanto aos seus intervenientes, do sobredotado ao menos privilegiado, do alienado ao mais sensato, não poderiam expressar imagens mais variadas.

Pessoalmente não fiquei cativada logo nas primeiras páginas mas, quando tal aconteceu, senti-me arrebatada. Emocionei-me mais do que uma vez e a vontade de continuar a ler, e a saber mais, perdurou depois de terminada a leitura. Admito que não fui conquistada pelos relatos da história portuguesa, mas sim pelas consequências destes na vida de cada um. Acredito no entanto, com a certeza de quem nunca vivenciou e pouco ou nada sabe do nosso antigo regime, que esta obra ajudará tanto avós como netos a ponderar sobre o passado e a actualidade, chegando a todos de uma forma muito particular.

João Ricardo Pedro surpreendeu-me pela frieza, quase rude, quase cruel das suas palavras. Quase consegui senti-lo a matraquear a teclas dando vida aquilo que poucos ousam dizer e, muito menos, da forma que ele ousou escrever. Apreciei em particular a pontuação e a estrutura do seu texto, a sua magnífica capacidade e inteligência de dizer tanto com tão poucas palavras e com palavras tão simples que é impossível ficar indiferente.
 
Esta obra venceu o Prémio Leya 2011 e é sem dúvida uma excelente aposta para todo o género de leitores que se interessam por Portugal, por retractos de vida, ou simplesmente por tudo aquilo que é a nossa realidade, por tudo aquilo que significa ser gente indiferentemente da cor, género ou estatuto social. É um livro para todos. Gostei muito.


Título: O Teu Rosto Será o Último
Autor: João Ricardo Pedro
Género: Ficção
Editora: Leya

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