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A Elphaba...

Adoradora de literatura em geral.
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terça-feira, 19 de junho de 2012

Sinopse:
Sam, Bonzi, Lola, Mbongo, Jelani e Makena não são símios normais. Estes bonobos, como outros membros da sua espécie, são capazes de raciocinar e de manter relacionamentos intensos. Mas, ao contrário da maioria dos bonobos, também conhecem a linguagem gestual.
Isabel Duncan, investigadora do Laboratório de Pesquisa da Linguagem dos Símios, não compreende as pessoas mas está perfeitamente à vontade com os animais, em especial com os bonobos..
Quando uma explosão abala o laboratório, ferindo gravemente Isabel e «libertando» os símios, a reportagem de interesse humano de John torna-se a reportagem da sua vida, que o fará pôr em risco a carreira e o casamento. É nessa altura que os bonobos desaparecidos são apresentados num reality show televisivo, emitido em circunstâncias misteriosas e capaz de se transformar no maior – e mais improvável – fenómeno da história da moderna comunicação social. Milhões de fãs ficam colados ao ecrã, a verem os símios a encomendar fast food cheia de gordura, a terem relações sexuais por tudo e por nada e a gesticularem a Isabel para os salvar.

A Casa dos Primatas é muito mais do que um simples romance. É uma narrativa sobre formas de vidas semelhantes com a capacidade de tocar o homem, que as desvaloriza, através das suas parecenças e diferenciações. São formas de vida apaixonantes que com a sua inocência, com as suas definições do que é certo e errado, e com a sua capacidade de aproximação afectiva não deixarão indiferentes quem tenha um coração aberto. Fala sobre símios, bonobos, afectivos, inteligentes e, de forma profunda, sexualmente emotivos.

Isabel, a nossa protagonista, vive intensamente a sua profissão e é dotada de uma sensibilidade fora do comum. Ela é os nossos olhos num universo que evidência perspicazmente a influência do ser humano no reino animal, as suas consequências e evoluções, para ambas as partes, ao investigar a linguagem dos símios, ensinando-lhes a linguagem gestual e simbólica. Algo extremamente interessante e comprovado nos dias de hoje.
John é um jornalista que tem o privilégio de assistir ao trabalho realizado por Isabel e ao qual não fica indiferente. Atravessando uma fase conturbada no seu casamento e profissionalmente, ele será uma peça crucial neste enredo complexo, bem trabalhado e absolutamente enriquecedor.
Juntas, sem no entanto terem contacto permanente, estas personagens são determinantes e oferecem-nos a possibilidade de conhecer diversas perspectivas sociais, um leque muito variado de intervenientes que alargam o horizonte ficcional sem, no entanto, ultrapassarem a linha ténue do real que está presente ao longo de toda a história.

Sem perder a beleza conquistada através do carinho e da ligação possível entre humanos e primatas, este não deixa de ser um livro muito duro, muito franco, com imagens que espelham o melhor desta espécie rara e o pior que a minha espécie consegue transmitir.
A quantidade de temas abordados, sem que se perca o fio do enredo central, é outro dos pontos-chave de atracção, em poucas páginas o leitor tem a possibilidade de explorar relacionamentos, encarar os meios de comunicação social dos dias de hoje, revoltar-se com os meios utilizados para investigações, entre muitos outros pormenores que nos rodeiam e que estão presentes no nosso quotidiano. É fascinante.

Sara Gruen tem uma escrita simples e coesa que confere fluidez ao seu texto e envolve o leitor de forma exímia. Sem que se aperceba o leitor é sugado para o seu universo de ficção sem que, por um momento que seja, esqueça que está perante questões passiveis de ser analisadas, e que devem ser reflectidas, por serem reais.
Louvo a autora pela sua capacidade de superação, pois acredito que deve ser necessária uma capa muito sólida para ter tamanha estima pelos símios e falar tão abertamente das atrocidades a que estão sujeitos sem conseguir intervir de forma mais proeminente, ainda que, a sua obra, inspiradora, abra com toda a certeza os olhos de todos aqueles que lerem as suas palavras.
Admiro-a, como leitora, pela sua capacidade de conferir leveza e ficção cativantes a factos tão chocantes, conseguindo ainda incluir críticas pertinentes à impressa televisiva de massas, ao excesso de marketing e à atenuação cultural que é realizada nos dias de hoje através do pequeno ecrã que influência tantos de nós.
Repito-me, ficarão surpreendidos, tocar-vos-á de alguma forma, mas de maneira nenhuma terminarão as páginas indiferentes.

Pessoalmente, eu tive de parar de ler várias vezes, para me acalmar, e conseguir prosseguir com esta leitura que me tocou profundamente.
Indiferentemente de ser “amiga dos animais”, ou não, considero que folhei actos desumanos dos quais qualquer leitor obrigação de estar consciente, no entanto, para lá disso, é com carinho que recordo a narrativa pois acredito que também fosse essa a intensão da autora, apresentar-nos seres magníficos, que se transcendem a eles próprios e às pessoas. Não deixa ainda assim, na minha perspectiva, de ser um livro polémico, isso certo, um livro que não considero adequado para crianças pois tenho a certeza sentiriam dificuldades em abarcar tudo o que é descrito e ficaria a faltar-lhes algo essencial nesta leitura, reflectir.
A Casa dos Primatas marcou-me, surpreendeu-me. Considerei-o gigante pela sua dimensão e capacidade de alcance ao leitor, soberba, e que eu efectivamente amei porque alterou, tal como a capa avisa, a minha forma de ver uma pequena parte do mundo, mundo este, do qual eu faço parte. E, por tudo isto, ficarão bem latentes na minha memória as palavras de uma autora que pretendo seguir atentamente, e com uma atenção muito especial.

Este livro é uma publicação ASA, da colecção Livros com Sentido, da qual fazem parte títulos como À Procura de Alaska e Grita. Uma colecção que me tem feito ler mais e melhor este ano através dos seus fenómenos literários, uma colecção que abrirá os olhos na mesma medida em que chegará aos corações dos leitores. Obviamente que sugiro esta leitura.

Título: A Casa dos Primatas
Autora; Sara Gruen
Género: Romance
Editora: ASA – Livros com Sentido 

3 comentários :

addle disse...

Os livros sobre animais fascinam-me, principalmente porque sou uma ambientalista (apesar de saber que não faço tudo ao meu alcance para termos um planeta melhor). Estou interessada em ler este livro por esse aspeto, os animais. É raro vermos livros com este tema, os macacos e quão parecidos eles são com os humanos. Além disso, a crítica à comunicação social intriga-me por ser um tema bastante atual. É um livro para ler brevemente, de certeza.

Elphaba disse...

Eu sou sincera. Não sou muito fã de livros com animais por sou muito susceptível addle, mas este adorei. É muito bom. Espero que tenhas oportunidade de ler e se gostares metade do que eu gostei acredita que já vais gostar muito :)

Boas leituras*

Elphaba disse...

*porque sou

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