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Adoradora de literatura em geral.
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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Sinopse: 
Holly Stykes foge de casa dos pais para viver com o namorado. Embora pareça uma típica adolescente inglesa, é propensa a fenómenos paranormais. Durante a fuga, conhece uma mulher estranha que a alicia com um gesto amável em troca de asilo. Décadas depois, Holly compreende por fim que espécie de asilo a mulher procurava…
Este é um thriller empolgante de David Mitchell, aclamado autor de Atlas das Nuvens que acompanha a vida atribulada de Holly numa série de eventos. Estes cruzam-se por vezes de maneira indizível, pondo-a no centro de uma perigosa jogada nas margens do mundo e da realidade.
Dos Alpes suíços da Idade Média ao interior australiano do século XIX, culminando num futuro próximo distópico, As Horas Invisíveis é um romance caleidoscópico que nos oferece uma alegoria do nosso tempo. 

Instintivamente, mesmo antes de saber o que tratava, tive a certeza que iria adorar este livro… e adorei. Mais que uma simples história, esta é uma viagem plena idealizada para hipnotizar o leitor, horrorizá-lo e encantá-lo com os seus lugares-comuns e, mais ainda, com a extraordinária realidade oferecida. 

Difícil de comentar, complexo a variados níveis e com um linha temporal extensa que permite incontáveis abordagens e a exploração de diversas temáticas, As Horas Invisíveis é o típico romance que nos transporta muito além da jornada da personagem principal, abrangendo todo o universo onde se desenrola a acção e com uma linha contínua de desenvolvimento que, por vezes, se desconecta propositadamente para voltar a fazer sentido nos momentos mais inesperados, nas múltiplas conclusões que tem guardadas para o seu leitor. 

Com a cronologia apresentada como parte integrante do enredo, começamos por seguir a adolescente Holly no ano de 1984, momento temporal em que nos revela situações relativamente banais para uma vida normal naquela época mas que, pontualmente, são envolvidas por uma estranheza que esmiuça a curiosidade de quem lê. Da aproximação viragem do século em 1991 às mil e uma possibilidades que se vão adivinhando, este grande livro em todos os sentidos vai envolvendo e abrindo novas janelas de visão ao leitor, 2004, 2015 e 2025 são, desta feita, interlúdios e cernes de uma obra constituída por várias existências, umas passageiras outras intemporais, até que finalmente nos seja mostrado o ponto final, em 2043, num provável fim do mundo como o conhecemos hoje. 
Bem sei que ficaram na mesma com o parágrafo anterior mas eu acho que esta história e o percurso inteligente da sua construção, logo de início, são uma verdadeira “bomba spoiler”. pelo que qualquer dado que eu vos faculte irá estragar a surpresa do sentido imenso que encontrarão em todas as páginas quando alcançarem a sua conclusão. Assim, e muito sumariamente, este é um texto onde várias vidas se interligam, quase sempre sem acaso, como peões de um jogo maior entre almas imortais, como armas de uma guerra secular que encontrará o seu final no princípio do novo milénio. 

Quanto a personagens, esta é das raras vezes em que a sua caracterização me parece quase irrelevante, como se o seu corpo ou personalidade fossem meros adereços do que representam, daquilo que dão a ver do mundo ou do questionamento que proporcionam em relação à humanidade. Além disso são muitas – Hugo Lamp, Crispin Hershey ou mesmo Ed Brubeck – e cada uma delas teve bastante espaço e relevância no texto, ainda que não deixem de ser passageiras, chegando de repente, marcando o seu papel e, na maioria das vezes, afastando-se com o ritmo imutável da vida. 
Contudo, Holly é uma presença efectiva ao longo de toda a obra e merece que a retracte, que vos diga o quão rebelde e tonta se mostra na adolescência, o quão consciente de si se tornou com o passar dos anos e com os traumas e como envelheceu, sabia e sofrida, com mais conhecimento da realidade imaginada do que qualquer ser humano poderia ousar. Holly é sensível e a sua sensibilidade levou-a por caminhos apenas fantasiados. De todos, foi dela quem mais dificuldade tive em despedir-me quando terminei a minha leitura. 

Como eventualmente pode ter ficado claro, este é um livro de fantasia e a parte surreal do texto diz respeito a uma guerra longa entre Anacoretas e Horologistas. Adorava, juro que sim, contar-vos o que cada uma destas facções representa e de que forma influenciam este livro, mas isso é algo que descobrirão já perto do final, algo que vos-é alheio durante grande parte do folhear e que, por isso, não posso partilhar por aqui. 

No entanto, creio que posso divagar um pouco sobre a forma como o texto está estruturado, algo que o distingue de outros títulos. Para lá das datas que referi anteriormente e que dividem o livro em várias partes, adorei o facto de na sua maioria estas serem dedicadas a diferentes personagens que, de forma bem conseguida, acabam sempre por cruzar o seu caminho com a protagonista. Este facto, para além de dar ver outras perspectivas, conferiu uma grande profundidade à obra e uma noção da palavra tempo que se foi entranhando. 
Eu senti cada parte do livro ao ritmo e na temporalidade em que era apresentada e quando, para o final, momentos/capítulos anteriores eram referidos, eu senti-os como fazendo parte do meu passado também. Isto é confuso? Talvez seja, mas eu perdi-me e fascinei-me com as pistas do passado, achei o presente veloz e fugaz, frontal de uma forma crua, e assustei-me, verdadeiramente, com o horror distópico de um futuro onde, com a guerra, veio a anarquia. 

Concluindo – não sei ao certo o quê, com esta opinião confusa –; este é um livro de fantasia, com muitas personagens relevantes para o leitor mas irrelevantes perante a enormidade do que é revelado. Este é um livro que escortina a sociedade e as suas alterações sociais ao longo do tempo, mostrando estigmas, focando questões proeminentes em diversos momentos ou que se julgam vir a ser relevantes num futuro próximo. Enquanto isto, o leitor pode encontrar fenómenos juntamente com o fantástico mas nunca perde o norte à credibilidade do que lhe é apresentado o que, no final, o deixará a pensar e inquieto com a consciência de tudo o que ainda estará para vir. 

Sinceramente, gostei mesmo desta aposta Editorial Presença, é das que gostava de reler pois acredito que uma segunda leitura lhe dará ainda mais consistência. Igualmente, fiquei muito curiosa para ler outro livro de David Mitchell, Atlas das Núvens em particular, pois para lá de a sua escrita ser fenomenal, com alguns apontamentos brilhantes, a sua imaginação não desilude – esta narrativa foi vencedora World Fantasy Novel Award 2015.

Título: As Horas Invisíveis
Autor: David Mitchell
Género: Fantasia; Thriller; Romance
Editora: Editorial Presença

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2 comentários :

Marta Moura disse...

Deve ser um livro interessante!

Elphaba disse...

É sim Marta, muito mesmo. :)

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