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A Elphaba...

Adoradora de literatura em geral.
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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Sinopse:
«Esta é uma velha história: eu tinha uma amiga com quem partilhava tudo, até que ela morreu e também isso nós partilhámos. Um ano depois de ela ter partido, quando eu julgava já ter ultrapassado a loucura daquele sofrimento inicial, caminhava no parque de Cambridge onde durante anos Caroline e eu passeámos os cães. Era uma tarde de inverno e o local estava vazio - a estrada fazia uma curva, não havia ninguém à minha frente nem atrás de mim e eu senti uma desolação tão grande que, por momentos, os meus joelhos ficaram imóveis. "O que estou aqui a fazer?", perguntei-lhe em voz alta, habituada agora a conversar com uma melhor amiga morta. "Devo seguir em frente?"»

Quando acontece, a morte de alguém que nos é intimamente querido, existe uma parte de nós que se fragmenta, que congela no espaço e se separa da nossa alma. É nesse momento, em que ficamos suspensos no tempo, que o nosso inconsciente dá início a uma batalha olímpica com muitas fases e diversos tipos de sofrimento, uma batalha aparentemente infinita até ao instante em que o nosso espirito, entorpecido, ressuscita para aquilo que se designa de prosseguir com a vida.

Um Longo Regresso a Casa retracta a reflexão, após a ausência, do crescimento e consolidação de um amor tangível. Um amor capaz de ultrapassar a barreira da perda, um amor que cresceu entre duas mulheres, amigas, que juntas eram uma única vida com a sintonia perfeita que apenas pode representar as almas gémeas.
Gail Caldwell aproxima-se do leitor espelhando o reflexo de si própria, o que se traduz numa escrita simples, bonita e extremamente pessoal, quase informal, em jeito de confidência abrindo-se totalmente para o leitor numa demonstração de amor.

Sou, regra geral, muito susceptível a todo o tipo de livros do género dramático ou que abordem a morte de forma pormenorizada e, embora seja esse o tema central da nossa história, a leveza encantatória que fluiu da amizade entre Caroline e Gail conseguiu enternecer-me o coração, para lá das lágrimas, despertando-me incontáveis sorrisos e intrigando-me nas suas imensas aventuras.
Ambas escritoras e de perfil ousado para com a vida, atravessaram as barreiras do condicional e expõem todo o tipo de situações caricatas que podem fazer parte da sua condição de mulher. Do começo da amizade ao limite do último sopro, tudo é oferecido ao leitor sem pudor que viaja, conhece e redescobre, juntamente com a autora, os seus amores e conquistas, as suas perdas e glórias.

Não vos minto, o livro é triste e apesar de começarmos a história cientes da fatalidade, enrijecendo o coração, mais tarde ou mais cedo uma nostalgia agridoce apodera-se do leitor. No entanto, para lá de alguma melancolia, prevalece uma imensidão de emoções benignas e conceitos enriquecedores como o valor da amizade, a coragem necessária para o renascimento e o amor imenso partilhado por ambas as mulheres pela vida bem como, muitas outras questões mais corriqueiras com as quais nos identificamos.
É dada particular atenção ao carinho pelos animais de estimação, tema que juntou Gail e Caroline, assim como a partilha e adoração de ambas em relação à escrita.
No que respeita ao cenário da história é simples, como o de outra qualquer vida, prevalecendo o sentimento de que estamos a presenciar algo absolutamente real.

Gail Caldwell não se inibe durante o processo de escrita e lê-la foi como folhear um diário de memórias só que com belíssimas descrições que nos fazem vivenciar presencialmente os acontecimentos. Este é um pequeno grande livro com que, qualquer leitor que tenha passado por uma situação idêntica, se conseguirá identificar e, quem teve a sorte do contrário, poderá nesta história encontrar uma exposição fidedigna das emoções que nos dominam nesses momentos contrubardos.

Esta é uma aposta Livros D'Hoje, que recomendo como exemplo para muitos leitores que sintam dificuldade em ver o lado feliz das piores situações e, também, para que tentem visualizar, mesmo que pareça impossível, o melhor das recordações. Uma memória que honra uma linda amizade que, para além de pertencer no coração de Gail, tocará também muitos outros corações. Gostei.

Título: Um Longo Regresso a Casa
Autora: Gail Caldwell
Género: Drama
Editora: Livros D'Hoje

São vários os momentos em que ao longo desde livro em que minha pele se arrepiou com a certeza da partilha de um sentimento, com a seca provocada no corpo pela ausência tão prodigiosamente descrita e existe um parágrafo em particular que gostei e quero deixar-vos em nota de despedida, afinal é disso que se trata:

«Levei anos a compreender que a morte não acaba a história, apenas a transforma. Editar, reescrever, a falta de nitidez e a epifania do diálogo solitário. A maioria das pessoas deambula para dentro e para fora das vidas uns dos outros, até que a distância, não a morte, as separe – o tempo e o espaço e o cansaço do coração são carrascos suaves das ligações humanas.»

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