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A Elphaba...

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quarta-feira, 17 de junho de 2015

Sinopse:
Meadow Woodson, uma rapariga de 15 anos que foi treinada pelo seu pai para lutar, matar e sobreviver em qualquer situação, reside com a sua família num barco na Florida. O Estado é controlado pelo Complexo Assassino, uma organização que segue e determina a localização de cada cidadão com precisão, provocando o medo e opressão em absoluto.
Mas tudo se complica quando Meadow conhece Zephyr James, que é – embora ele não saiba – um dos assassinos programados do Complexo. Será o seu encontro uma coincidência ou parte de uma apavorante estratégia? E conseguirá Zephyr impedir que Meadow descubra a perigosa verdade sobre a sua família?

Qual é o valor de uma vida? 
Moralmente, o que define e diferencia a humanidade?
Pesar estas duas questões, de respostas aparentemente simples mas tão intrincadas, é o meu ponto de partida para esta opinião e, creio eu, o ideal para assimilar a base gritante deste enredo intenso, que desconstrói estruturas sociais e afectivas comuns para dar corpo à distopia de O Complexo dos Assassinos.

Lindsay Cummings é fria, quase cruel e muito rudimentar emocionalmente, o que oferece impacto e expectativa à sua narrativa e um teor bastante singular à sua forma de expressão, muito directa e que rapidamente cativa o leitor. As suas descrições, cruas para o seu universo despido, são suficientemente extensas para chocar, para nos hipnotizar às existências de alma estilhaçada espelhadas e em constante evolução. E sim, Lindsay foca demasiado a morte e obriga-nos a pensar o sentido da vida.

Todos os dias, quando o Sol se esconde, uma cidade isolada na Florida é pintada de sangue e decorada com rostos paralisados na agonia de uma morte atroz. Não importa a idade ou o género, todos os dias assassinos sanguinários atacam com a escuridão e ceifam vidas aleatoriamente.
De forma intercalada, o leitor acompanha os difíceis e opostos destinos de Meadow e Zephyr, dois jovens de idades aproximadas, marcados pelas perdas do passado e calejados pelo duro presente; o seu futuro é uma incógnita. São dois jovens que no seu encontro despertam para uma realidade ainda mais aterradora do que a que alguma vez imaginaram existir, dois jovens que perderão a pouca estabilidade que sempre conheceram e que se articulam e afastam no desconhecido, numa nova perspectiva em que só a ausência de esperança permanece igual.

Existe um desapego tão forte na forma de ser dos protagonistas desta história, até ao momento em que se cruzam, que só a partir desse ponto, um ponto em que começam a evoluir de forma constante até ao final do texto, é que o leitor consegue verdadeiramente senti-los, compreendê-los.
A primeira característica que define Meadow e que a acompanha até à última página, marcando as suas escolhas e atitudes, é o grande laço que tem com o que resta com a sua família, as emoções contraditórias que esta lhe desperta e, definitivamente, a maneira como é este sentimento que torna humana, independentemente de ser ou não uma assassina a sangue frio, sem peso consciência. No entanto, após conhecer Zephyr e por ele desafiar o compromisso que estabeleceu com os seus pares, a montanha russa emocional que a personagem atravessa torna-a extremamente interessante e imprevisível até ao final, o que me agrada bastante neste género literário.
Zephyr, para o bem ou para mal, aproxima-se um pouco dos heróis românticos, com dúvidas existenciais, bastante emocional e com uma faceta negra que contrasta com o seu lado mais belo, mas ainda assim eu gostei. Gostei particularmente da bagagem que a autora lhe ofereceu para estar à altura de Meadow e acho que juntos fazem uma equipa muito boa.

Talvez pelo lado sombrio dos principais, os intervenientes secundários destacam-se pelas suas pequenas singularidades, conferindo leveza a este universo carregado. Peri e Talan são os meus destaques, a primeira porque é amorosa, tão inocente quanto alguém o pode ser no mundo retratado e a segunda pela sua disposição, personalidade e sentido de humor – a ironia com que Talan encara o seu fado é deliciosa.


No que diz respeito ao enredo distópico, há muito pouco que eu possa contar-vos que não esteja na sinopse e que a meu ver não seja um spoiler, ora vejamos…
Os assassinos programados são um dos pontos mais interessantes mas é na forma como estes actuam e o mistério que existe em torno dos mesmos que os torna cativantes, pormenores sumarentos só começam a ser revelados na segunda parte do livro.
Quanto à realidade descrita, é do mais miserável que possam imaginar. O leitor pensa que já leu um pouco de tudo, políticas opressivas de medo e de fome, etc., mas a autora junta tudo de forma tão homogénea que nos faz pensar como é que existe viva-alma naquele Estado. É tudo muito duro, muito deprimente e cruel, sem qualquer tipo de perspectiva, o que gera uma grande ansiedade no leitor – sabemos que as desgraças vão começar a acontecer em catadupa, e acontecem!

Poderia ainda, eventualmente, falar-vos do romance, porque ele existe e é tão veloz que retira o folgo, mas custa-me focar-me no mesmo quando o amor, um sentimento tão belo, está camuflado pela finitude de forma tão clara e se encontra, em determinados momentos, distorcido para mim. Quem somos nós para julgar o que se ama, aquilo em que se acredita? E esta pergunta leva-me, por fim, a abordar levemente as minhas primeiras questões, a humanidade, o que nos torna mais ou menos humanos e que pode, ou não, transcender a nossa concepção e formação. Sinceramente, não sei.
Não sei distinguir a forma, o corpo, do ser e do sentir. Não sei julgar o que me ultrapassa, o desconhecido, e mesmo quando me deparo com o que considero inumano, o facto de ele ser aquilo em que acreditamos, que vemos, retira-me em parte a capacidade de separar o real do imaginário. E isto, caros leitores, é um pouco do que fui lendo nestas entrelinhas. 

Quanto ao desenlace, esse, é impróprio para cardíacos – literalmente – e acredito que deveria ser proibido um livro acabar assim. Ou seja, quem leu e gostou, como eu, vai ficar a roer unhas pela continuação e fará de tudo para a ter nas mãos.
Dito isto, fãs de distopias, físicas e psicologicamente muito violentas, este livro é para vocês e a minha sugestão é que vistam uma armadura emocional antes de começarem a ler, porque a obra distancia-se de tudo o que conhecem e poderá chocar-vos em vários momentos.

Esta é uma obra do Grupo Saída de Emergência, na sua colecção BANG!, que me deixa particularmente feliz. Já era altura de, para lá dos destaques sensacionais no fantástico, começaram a apostar neste género de sucesso e que vai ganhando cada vez mais público.


Título: O Complexo dos Assassinos
Autora: Lindsay Cummings
Género: Distopia




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