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quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Sinopse:
Pela primeira vez, em Panem, dois adversários conseguem o que até aí era considerado impossível: sobrevivem juntos aos terríveis Jogos da Fome. Mas o estratagema de Katniss Everdeen e Peeta Mellark, para não terem de escolher entre matar ou morrer, semeia o fogo da revolta entre os oprimidos. Snow, o cruel presidente de Panem, apercebe-se do perigo que aquele feito encerra e engendra um plano para acabar de vez com a rapariga que simboliza a rebelião. O Capitólio fará o que for preciso para acabar com qualquer veleidade de derrubar o seu poder...

Esta foi uma das minhas leituras do verão passado e a minha última experiência cinematográfica, em ambos os casos confesso-me maravilhada.
Se dúvidas houvesse, quanto aos atributos que levaram Suzanne Collins ao sucesso, todas elas se dissiparam com a continuação da sua distopia, uma narrativa que reavivou este género literário no mercado conquistando novos adeptos e, certamente, fascinando os que já anteriormente se tinham deparado com os seus perturbadores traços característicos – ambientes hostis, personagens arrojadas e criticas pertinentes.

Tratando-se esta história de uma continuação, alerto desde já para o risco spoiler para quem nunca entrou no universo de Os Jogos da Fome, algo imperdoável pois deveriam mesmo experimentar.

Muito mudou desde que conhecemos Katniss, uma jovem órfã de pai que desafiava, dentro dos limites, as regras do seu distrito para alimentar a sua irmã e a sua mãe. A fome, uma arma devastadora utilizada para controlar o povo e que abrange muitos dos que conhece, faz agora parte do passado mas o medo, esse, está mais enraizado que nunca após o desafio da protagonista perante Capitólio e, consequentemente, o seu presidente.
Depois de ter vencido os horrores na arena dos septuagésimos quartos Os Jogos da Fome, através de uma relação falsa e forçada com Peeta, o tributo masculino do distrito 12 a que pertencem e que participou consigo na carnificina a que estiveram sujeitos, deixou de ser apenas Katniss quem está em risco, agora, mais do que ter a sua vida em perigo, todos os que ama estão vigiados num aparente luxo, que é atribuído aos vencedores, bem como todos os que contribuíram para a sua salvação.

Embora tenha gostado do primeiro livro da trilogia, Em Chamas superou todas as minhas expectativas nas diversas áreas exploradas – no campo emocional, psicológico e até na abordagem à censura – fazendo de mim uma verdadeira fã da autora.

Uma das primeiras evoluções evidentes está directamente ligada às personagens, principais ou secundária. No caso de Katniss e Peeta, verifica-se um claro amadurecimento emocional tão atractivo quanto perturbador, devido às provações a que foram sujeitos. O trauma e a pressão social com que se deparam transforma-os em personagens mais fortes mas com fragilidades afectivas, algo que é mais evidente em Kat.
Já no que respeita a intervenientes secundários, gostei particularmente da alteração sofrida pela irmã e mãe de Katniss, Prim e Sra. Everdeen respectivamente, que anteriormente mostravam uma fragilidade que deu lugar à coragem, deixando transparecer que no decorrer dos Jogos algo mudou na mentalidade do povo. Ainda dentro do distrito 12, a grande desilusão foi Gale, o companheiro valoroso da protagonista que se revela, por diversas vezes, bastante insensato.
Quanto a outras personagens secundárias já conhecidas do leitor gostei dos papéis de Presidente Snow, Cinna, Haymitch ou Effie que continuam a destacar-se por motivos diferentes, mas com um indiscutível contributo para abrilhantar a história, assim como Finnick, Mags, Johanna, Beetee e Wiress, novas personagens que com o decorrer da história se tornam encantadores.

Relativamente às mais-valias oferecidas pelos desenvolvimentos da história, é oferecida uma perspectiva alargada da vida dos vencedores de jogos ao longo do tempo, vidas tão perturbadas quanto atractivas pelo seu estatuto – muito interessantes – o que confere bastante sentido à realização do Quarteirão, os septuagésimos quintos Jogos da Fome, que são bastante especiais como acontece a cada 25 anos desde que foi imposto o regime. São sem dúvida os melhores de sempre, pela violência psicológica embutida nos participantes e pela peculiar arena em que estes terão de combater.

Algo que também me agradou foi a tomada de conhecimento de outros distritos, perceptível através do passeio dos vencedores realizados por Katniss e Peeta, que nos possibilita conhecer as dificuldades e o clima opressivo a que estão submetidos, assim como a dimensão da dor dos familiares que perderam as suas crianças nos Jogos.

Apesar de toda a carga emocional desta narrativa dramática, por vezes esquecida entre a muita acção, nova informação e as ilusões criadas, gostava de citar que este texto tem também pontuações de humor deliciosas onde se destacam Haymitch, Effie, Beetee e Wiress, uma beleza estéril encantatória que evidencia os horrores do totalitarismo levado acabo por Snow, área onde Cinna se destaca, e um lado afectivo enternecedor que advém de Katniss e Peeta, assim como de Mags e Finnick, com demonstrações de verdadeiro companheirismo.


Em suma, peço desculpa por não vos ter contado muito relativamente ao que verdadeiramente acontece no decorrer do enredo, mas não quero mesmo ser desmancha-prazeres. Acontece que o livro está muito bem conseguido, desenvolvendo na perfeição as consequências latentes no desafio que, quase inocentemente, os vencedores criaram, permitindo a existência de um terror e opressão mais subtil, diplomático até, que acompanha as muitas emoções a que as personagens vão sendo sujeitas – existe Jogo dentro e fora da arena, se é que me entendem.

Não me vou repetir quando à escrita de Suzanne Collins, reafirmo apenas que a autora fez o trabalho de casa e o amadurecimento da sua escrita é gritante, algo que transparece nas personagens e no ambiente que consegue transmitir para o leitor, existindo, mais do que nunca, uma ligação entre quem lê e os seres ficcionais, bem como entre os mesmos.

Pessoalmente, tendo que destacar algo, comovi-me com os afectos entre Peeta e Katniss, pela união que representam e que só é possível entre duas vidas que partilharam a mesma visão da morte.

Os Jogos da Fome foram uma grande aposta Editorial Presença no passado que, certamente, continuam a dar frutos e a mostrar o seu valor no presente, já na 12.º edição, desta feita alusiva à recente estreia do filme.
Os Jogos da Fome (Opinião)


Título: Em Chamas – Jogos da Fome (livro II)
Autora: Suzanne Collins
Género: Distopia

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