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A Elphaba...

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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Sinopse:
Durga tem apenas catorze anos e está demasiado assustada para falar. Ela foi encontrada na mansão onde vivia, rodeada pelos cadáveres dos seus familiares. É a única sobrevivente. A única herdeira de uma imensa fortuna. É também a única suspeita.
Simran é assistente social, bebedora inveterada e fumadora compulsiva. Esta mulher pouco convencional é a única esperança de Durga, já que apenas ela acredita que a menina pode ser mais uma das vítimas e não a assassina.
Durga e Simran têm em comum origens privilegiadas num país onde as desigualdades sociais são profundas e a realidade é brutal.
À medida que tenta desvendar o mistério daquela noite trágica, a destemida Simran conhece o círculo restrito em que se movimentava a família. De Harpreet, o enigmático tutor de Durga, e a sua mulher desfigurada, à bela Amrinder, a personificação perfeita da alta sociedade, os preconceitos são implacáveis e os segredos são inúmeros. E Simran sabe que não pode descansar enquanto não desvendar toda a verdade…

Houve um momento, ao longo deste livro, em que senti que algo pegajoso se colava à minha pele… Mais tarde, ao reflectir sobre a história, cheguei à conclusão que era simplesmente vestígios da humanidade que li, que aflorou através do reflexo de um dos lugares mais sombrios da terra que, curiosamente, se enfeita com as cores mais vivas do mundo.

A Testemunha da Noite fala-nos de Durga e de Simram, duas mulheres privilegiadas atendendo a uma India particularmente cruel com o seu sexo. Com faixas diferentes elas narram pensamentos e descobertas feitas ao longo do seu passado e no presente, enquanto reflectem um país em evolução mas que continua preso a convenções retrogradas.
Kishwar Desai, como indiana, dá-nos um retracto muito fidedigno das suas origens através de uma escrita versátil e extramente apelativa onde acompanhamos diferentes formas de pensar ao longo de um enredo com mais lágrimas que sorrisos, até um desenlace de cortar a respiração.

Com duas abordagens distintas é fácil para o leitor abarcar a totalidade das acções e pensamentos que preenchem, e dão vida, a estas páginas e, embora de início, um dos relatos possa parecer confuso, depressa o leitor compreenderá o seu sentido e desejará de alguma forma este nunca chega-se a ser coeso.
Simram, a assistente social convidada a estudar o caso Durga é uma mulher que perdeu a fé na sua nação, mas não na vida.
Perfeitamente consciente de diversas atrocidades que são levadas a cabo  pela sua sociedade em pleno século XXI, ela tenta colmatar algumas falhas neste sistema regido por homens, aligeirando processos em que mulheres e crianças estejam incluídas para que de alguma forma possam construir novamente, e de forma digna, a sua vida. No entanto, nem todos a vêem com bons olhos, ela fuma, bebe e é solteira numa terra em que deveria tapar o rosto e sorrir apenas dentro de quatro paredes.
Durga, por seu lado, é uma incógnita durante grande parte da narração. Temos a consciência de que os seus olhos transmitem muito mais do que as palavras que omite, mas estando presa e sendo a única testemunha, e possível culpada, do homicídio em massa dentro da sua própria casa o silêncio pode ser a sua única salvação.

Embora a sinopse deste livro seja apelativa ela é apenas um rastilho que nos encaminha por lugares extremamente sinuosos e aflitivos transformando o assassinato em série que ocorre em casa de Durga numa ínfima parte do drama deste enredo, pelo que utilizar a palavra genocídio a forma mais correcta para abordar determinados temas que são explorados ao longo do livro.
A exposição da historia permite uma tomada de consciência, de posição, no que respeita a todas as partes envolvidas e cada um dos intervenientes é exposto de maneira diferente pelo que a autora optou por utilizar diversas formas de exposição de texto e linguagem o que  para mim, como leitora, só evidencia a grandiosidade desta leitura.

Desta feita importa referir as duas abordagens emocionalmente mais tocantes, as cartas de Durga, que são um misto impressionável de terror e inocência no que respeita à sua visão sobre a vida que sempre a rodeou e a forma como ela se sente desvalorizada, bem como e os desenvolvimentos levados a cabo por Simram que sem qualquer tipo de pudor vai reflectindo e juntado as peças do puzzle enquanto levanta o véu que paira sobre a sua India desfazendo a ilusão que persiste e é escondida a todo o custo. 

Em jeito de nota final, como leitora, não posso deixar que reafirmar que o que mais impressiona na ficção é a sua proximidade com o real que está evidenciada em A Testemunha da Noite. Um retracto muito fidedigno sobre os maus tractos, o tráfico e a crueldade que pode existir em ser-se mulher no país errado.
Este livro vai possivelmente chocar e maravilhar muitas leitoras, isso é um facto assente, mas no entanto enquanto houver alguém capaz de olhar para além de si próprio, de quebrar as barreiras que lhe são impostas, ainda pode haver esperança e nem tudo está perdido.

No respeita à escrita de Kishwar Desai é pouco descritiva e muito factual sobressaindo o desejo da autora de expor o máximo possível do seu país de origem. Não é uma leitura voraz com uma escrita simples mas sim um enredo muito bem trabalhado com o intuito de ser compreendido e destinado a tocar os seus leitores para uma verdade ainda presente nos dias de hoje.

Uma excelente aposta da ASA que aconselho vivamente a todos os que quiserem fugir a uma leitura mais comercial. Adorei.

Título: A Testemunha da Noite
Autora: Kishwar Desai
Género: Romance
Editora: ASA

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