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A Elphaba...

Adoradora de literatura em geral.
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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Sinopse:
Matthew Dicks inspirou-se no imaginário de uma criança autista que conheceu e criou uma calorosa história de amor e lealdade, narrada por uma personagem improvável: Budo, o amigo imaginário de Max, o menino autista.
Budo é uma voz original e inesquecível, pois é capaz de falar sobre a vida, o amor, a amizade, a infância, a morte, e a paternidade, como uma personagem poderosa e inteligente dentro da cabeça de uma criança autista.
Mas os amigos imaginários só podem existir desde que os seus amigos reais continuem a acreditar neles. Mas um dia Max deixa de acreditar!
E quando Max fica em perigo, mesmo tendo a criança deixado de acreditar nele, Budo arrisca tudo, incluindo a sua existência, para salvá-lo, ou melhor resgatá-lo do que todos à sua volta querem que Max seja e que nunca poderá ser.

Existem histórias que são indiscutivelmente especiais, são histórias que, para além de nos falarem ao coração, nos sussurram os pensamentos e nos fazem reflectir sobre os outros, sobre a nossa visão do mundo quando comparada com a de terceiros. Memórias de um Amigo Imaginário é assim, um mesclar de realidade e fantasia inesquecível devido à sua voz singular, marcante pelo seu teor pertinente, e as suas personagens desiguais, verdadeiras heroínas.

Nesta narrativa contada por Budo, o amigo imaginário de Max, uma criança autista, fui por diversas vezes positivamente surpreendida. O primeiro momento em que realmente me senti fascinada foi, no entanto, perante a criatividade de Matthew Dicks para dar vida aos sonhos infantis, concebendo o maravilhoso deste texto com base na imaginação daqueles para quem o mundo ainda é feito de todas as possibilidades. Assim, conhecemos o faz de conta de um autista inteligente, extremamente inteligente, que nos dá uma visão da sua realidade que, sendo próxima da nossa, é repleta de curvas e contracurvas em que as suas atitudes, emoções e actos de destacam das pessoas comuns, das pessoas menos especiais, porque na sua imagem de Ser não há espaço para a subjectividade, para a ironia, para o duplo sentido das nossas múltiplas identidades.

Obviamente que o autismo, enquanto doença, é o tema que mais se destaca e a forma como se encontra explorado, em pleno, é perfeita. Todas as perguntas que eu tinha, sobre o carácter desta peculiaridade, tiveram resposta porque Budo, existindo como uma criação de Max, nos oferece a sua perspectiva na totalidade, algo que nenhum autista conseguiria expressar pois essa é uma das características mais vincadas da doença. Toda esta realidade é oferecida num ambiente diário, próprio de uma criança, com a qual os pais nem sempre sabem lidar, aceitar até, mas está principalmente focada no importante contexto escolar, no qual estas crianças acabam por estar inseridas a maior parte do seu tempo e onde, nem sempre, tem a sorte de ter o devido acompanhamento – não é o caso.

Os amigos imaginários, a realidade paralela onde estes se apresentam devido à prodigiosa concepção dos seus amigos humanos, é o lado fantástico da nossa história e não fica, de todo, aquém dos muitos sorrisos que a meninice rouba aos adultos constantemente. Criaturas gigantes, coloridas, imperfeitas na sua perfeição são parte do que poderão encontrar, com um toque de sobrenatural que vos deixará a reflectir. Existe, entre outros, um lado mais triste nesta narrativa mágica, que é o facto de os amigos imaginários só existirem enquanto as crianças acreditarem na sua existência, desaparecendo depois disso para parte incerta. Este tema, a morte, é algo fortemente explorado, pelo medo, pela incerteza de continuidade – algo que todos já meditamos –, é uma questão que causa ambiguidade de emoções, no leitor, principalmente em Budo que existe dividido entre o querer permanecer e o desejo de ver o seu amigo crescer, evoluir.

Outro dos pontos de que gostei - neste enredo que leva Max, na sua inocência, a um perigo real nos nossos dias do qual só o seu amigo invisível, incapaz de interagir com os humanos, o pode salvar –, foi o espelhar não só da bondade e ingenuidade das crianças, como também do seu lado mais retorcido devido à sua pureza, falta de filtro, quanto ao que é mais ou menos correcto. Obviamente que existem meninos mais cruéis, eu pelo menos penso que sim já tendo trabalhado com crianças, mas de uma forma geral penso que o autor soube mostrar bem como são estas existências sem a noção da dimensão do mundo, e esse é sem dúvida um dos valores deste livro.


Por fim, esta história simples na sua complexidade, de compreensão fácil para mentes abertas e leitura viciante para quem não se cansa de aprender com os mais pequenos, podendo refugiar-se num espaço de recordações, não teria o valor que tem se não fosse a sua escrita prodigiosa aliada à grande fertilidade da mente de Matthew Dicks.
O autor foi além das concepções, conheceu o banal e torno-o extraordinário, com as noções básicas de bem e mal, de afectos e de amor. A amizade, esse bem raro e cada vez mais incomum, tem uma dimensão enternecedora, cativante, e está expressa em cada descrição, através visão clara do universo de Budo. É algo de incondicional, que será sentido, quase vivido pelo próprio leitor.

Este foi, para mim, um folhear reconfortante e, acima de tudo, gratificante. Aprendi e emocionei-me, apesar de ter sido uma leitura morosa – por questões externas às páginas -, desejei muito o final que o autor concebeu para as suas personagens. Um livro que, definitivamente, recomendo a todos os adultos, com ou sem crianças, com a certeza que descobriram em Memórias de um Amigo Imaginário uma visão diferente da sua, uma visão pueril que na vossa maturidade vos dará sentido.

Esta é uma aposta Planeta Manuscrito, uma brilhante aposta desta editora que diversifica para chegar a um público generalizado e que, com esta história, chegará a todos vós.


Título: Memórias de um Amigo Imaginário
Autos: Matthew Dicks
Género: Ficção


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